23 de fevereiro de 2007

Nada

Levando-se em conta que o oposto a um ser nada mais é do que sua própria negação pode-se chegar à conclusão de que a negação de um não-ser passa a ser o próprio ser. Isso trabalhado no puro campo ontológico das essências, sem entrar nas categorias. Ao pensarmos o nada sob o ponto de vista epistemológico teremos que a pura capacidade de compreensão do nada passa a ser impossível ao nosso intelecto, assim como a tentativa de compreender o Infinito e o Absoluto. Um – nosso intelecto - se encontra no puro campo do medível, do logicamente associável, outro – o nada – se encontra no campo do incognoscível, para além da lógica. Como se uma pura denominação do “nada” já fosse aprisioná-lo sob algum conceito puro, como se a mais vã tentativa de definição do nada fosse fazer com que escapasse ao seu sentido a priori. Talvez o nada fosse o não pensar, a douta ignorância, a eterna inocência. Como Fernando Pessoa diz sempre nos meus ouvidos, olhos, boca e pele:
”Amar é a eterna inocência,
E a única inocência é não pensar”

O nada é o amor. O amor é nada. Admitir que o amor não é nada é dizer que ele já é alguma coisa. Como dizer que “você não é ninguém pra mim” significa dizer que o “você” é alguém para o outro. Excelente, o nada não existe, mas só assim ele é nada.

Durante o processo de criação da linguagem, como meio de comunicação, expressão e inter-relação do “eu” com o mundo, o nada aparece não como um meio de apresentação de uma verdade já conhecida, mas, antes, meio de descoberta de uma verdade até então desconhecida. Trata-se então de algo progressivo, inerente a todo o processo dialético da história. Enfim, poderia escrever páginas e páginas sobre nada, e ainda assim encontraria leitores sedentos por descobrir um significado.

Como se houvesse muita metafísica em comer chocolates, pequena!