E tudo começou assim: ele naõ tinha mais sobre o que escrever. Se pegou olhando a folha em branco, separando o real do abstrato, misturando os verbos com o gosto do sal. Como se ja tivesse escrito sobre tudo, esgotado todos os temas, realizado todas as obras, se sentia vazio. Lhe sobrava naquele quarto-castelo vazio que era a sua mente o eco de uma música suave que entrava pelos ouvidos numa tentativa pífia de inspira-lo. Nenhum movimento.
Inspira-lo.
Espirou. Era isso que faltava. Como o olho sente falta do ver, como a pele sente falta do toque, ele sentia falta. Algo que o motivasse a escrever, a fabular, a brincar com as coisas, com as idéias, com os fatos. Percebeu que há tempos ninguém o surpreendia, ha tempos quase nada lhe tirava um sorriso surpreso, um sorriso menino, um sorriso de dentro. Era só o sorriso com medo, aquele que saia por pura obrigação de expressão. Clamava por detalhes, que alguém lhe trouxesse pequenos prazeres tal qual o som doce do por-do-sol.
"Me dêem prazer" gritava aos quatro ventos mas não o ouviam.
"Me faça, me crie, me seja, me veja, me pense, me sinta!".
Era tudo o que ele pedia para poder escrever, para poder sorrir. Sorrir.
7 de novembro de 2006
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Um comentário:
Era um cara dessensibilizado a essa altura. Eu emprestaria meus sentimentos a ele, só por nobreza e não pelo preço do aluguel.
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